segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Naruhina IX, X, XI, XII


Capítulo IX – Entre amigos

- Então, a Hokage-sama estará lá?
- S-Sim. É s-só um jantar...
- Tudo bem. Pode ir.
Hinata suspirou aliviada.
- Mas eu ficarei mais tranqüilo se o Neji te acompanhar.
- P-Pai... Eu n-não s-sei, foi a Sakura que me convidou e...
- Ele não precisa ficar lá. Só vai te deixar e buscar.
- Certo...
Neji realmente só fizera isso mesmo. Acompanhou-a até a porta da casa de Sakura e avisou:
- Virei buscá-la quando seu pai achar conveniente.
- Neji... – ela começou antes que ele fosse embora – Obrigada pela sua ajuda daquela vez...
- Não precisa agradecer Hinata-sama. Divirta-se.
- Ah... Olha o Neji! - Sakura ouvira a voz de Hinata enquanto arrumava a mesa da sala e tinha ido abrir a porta – Não quer entrar e participar?
- Fica para uma outra oportunidade, Sakura-san. Tenho outros afazeres no momento.
- Ah, que pena. Fica pra próxima então... Bem vamos entrar Hinata?
- S-Sim...
As únicas pessoas que estavam na sala era Ino e Shizune. Ao que parecia, Sasuke e Naruto ainda não tinham chegado, nem Tsunade, Sai ou Kakashi. A mãe de Sakura arrumava alegremente a sala e parecia mais feliz que a própria filha por estar recebendo visitas.
- Hinata-chan! Como vai?
- Bem, Haruno-san. E a senhora?
- Muito satisfeita. Minha filha anda trabalhando demais e eu estou gostando de vê-la em casa hoje, se divertindo!
- Ah, mãe. Não comece essa história de novo. É você me reclamando de um lado, Sasuke de outro... Assim eu terei uma estafa mental!
- Por isso eu amo meu genrinho! Ele concorda comigo...
- Mãe... Não chame o Sasuke de genrinho... É constrangedor demais.
Todas na sala começam a rir. Sakura realmente parecia constrangida, mas a mãe dela não se importava nem um pouco. Hinata pensou por um instante em sua mãe. Se ela estivesse viva, iria gostar do Naruto tanto quanto a mãe da Sakura gostava do Sasuke? Provavelmente. Diferente de seu pai, sua mãe era uma mulher alegre e viva. Nunca sua casa teve o mesmo calor, a mesma sensação de aconchego depois que ela morrera ao dar a luz a Hanabi. Talvez, se ela estive viva, não fosse tão doloroso tudo o que estava passando. Poderia contar com ela, tinha certeza disso. Mas nunca teria essa chance...
- Hinata? Você está bem?
Ela provavelmente deveria ter ficado devaneando e não ouvira a pergunta que lhe fora feita. Enrubesceu e perguntou sem jeito:
- Desculpe, eu estava pensando...
- Deu pra perceber! – brincou Ino
- Bem eu estava dizendo que Tsunade-sama talvez demore um pouco por que ficou resolvendo uns últimos detalhes. Kakashi-sensei sempre chega atrasado, então não conta. E os rapazes foram comprar umas bebidas. – acrescentou revirando os olhos – Idéia da mamãe...
- Claro, vocês são jovens! Devem se divertir!
- Mas... Bebida mãe? A Hinata nem é de maior ainda!
- Oh, não se preocupem comigo. Eu não bebo...
Um barulho na porta chamou a atenção dela. Pouco depois, Sai, Sasuke e Naruto adentram a casa carregando algumas sacolas e, por incrível que pareça acompanhados de Kakashi, que parecia muito animado.
- Yo! – cumprimentou ele.
- Por que vocês me deram as sacolas mais pesadas pra carregar? – reclamou Naruto.
- Porque você é um quase jounin e precisa adquirir responsabilidades. – respondeu Sasuke.
- É impressão minha ou você tem usado essa desculpa de jounin para me atormentar?
- Meus parabéns Hinata. Parece que você conseguiu fazer a cabeça dele funcionar! Ele já até percebe as coisas! Que tática você usou? Transfusão de cérebro?
- Se for isso, - Sai disse entrando na conversa – eu quero o cérebro do Kakashi-sensei.
- Eu não dou. – sentenciou Kakashi.
As sacolas passaram para as mãos da mãe da Sakura que pediu que todos se acomodassem.
- É rápido. Só irei terminar de pôr a comida nas travessas.
- Quer ajuda Haruno-san? – se ofereceu Shizune.
- De forma alguma! Você é visita! Sente-se na sala com os outros!
Todos se acomodaram confortavelmente. Não demorou muito e a comida já estava na mesa.
- Que estranho, Tsunade-sama está mais atrasada que o costume. Até o Kakashi-sensei chegou antes dela... – comentou Sakura.
- Hã.. Será que eu entendi direito? Isso foi uma indireta pra mim? – perguntou Kakashi.
- Na verdade, eu acho que foi bem direto sensei. – falou Sai.
- Mas direto que isso, só um gancho de direita. – concordou Naruto.
- Podem se servir – convidou Haruno-san – Tem bastante.
Tsunade só chegou depois que o jantar estava na metade. Parecia preocupada e cansada.
- Algum problema Tsunade-sama? – perguntou Shizune preocupada.
- Muitos. Mas não quero falar nisso, não é nada grave. O aroma está delicioso, Haruno-san. Como sempre sua comida é ótima. Mas não poderei demorar muito.
- Obrigada, Tsunade-sama. Experimente esses bolinhos de polvo. Receita nova.
- Está com uma cara ótima. Obrigada.
Apesar da afirmação que não era não havia nada de grave acontecendo, o clima ficou tenso depois da chegada da hokage. Hinata percebeu que ela parecia distante e alheia às conversas que se desenrolavam ao seu redor.
- Eu juro que foi assim! – dizia Ino – Nós tivemos que sair correndo de lá.
- Isso é mais normal do que agente pensa. – falou Shizune – Muitas pessoas acham que todo ninja é um assassino ou perigoso. É claro que muitas missões incluem homicídios, mas não saímos matando por esporte.
- Ser ninja é uma profissão que exige muito de nos mesmos – concluiu Sai – Exige que nós pensemos muito nos outros e pouco em nos mesmo. Quantas vezes eu já não pensei “E se eu fosse outra coisa e não um ninja, eu seria mais feliz?”.
- E você já chegou a essa resposta Sai? – questionou Kakashi.
- Ainda não. – e dando um sorrisinho acrescentou – Viver de especulações não faz bem pra saúde.
- Eu estou achando essa conversa muito louca. – opinou Sakura.
- E tem gente que nem assim ta participando. – falou Ino apontando pra Hinata – Acho que ela não está gostando.
Nem de longe aquela era a verdade. Hinata não lembrava quando fora a vez que se divertira tanto. Mas a proximidade entre ela e Naruto era perturbadora. Parando para analisar bem, ela percebera que, excluído Haruno-san e Tsunade, a mesa era composta só por casais. Não sabia se rolava algo entre Kakashi e Shizune, mas eles estavam sentados bem próximos e por vezes baixavam o tom de voz para que ninguém pudesse ouvi-los. Sakura cobria Sasuke de atenção e cuidados e trovando alguns carinhos leves. Porém, Ino e Sai eram bem mais expansíveis e já tinham trocado diversos beijos ardentes. Nesses momentos ela simplesmente ficava sem ação, pois não sabia o que era pior: se sentir deslocada ou imaginar que Naruto poderia fazer o mesmo com ela já que a dona da casa fizera questão de colocar-los um ao lado do outro.
- N-Não é nada disso. Eu só não quero atrapalhar só isso.
- Mas você não atrapalha Hinata. – disse Naruto – Mas devia se mostrar um pouco mais alegre. É tão difícil ver você sorrindo abertamente.
- Ela deve ter esgotado todas as palavras dela tentando te ensinar. Afinal, deve ser um trabalho meio difícil colocar as coisas em termos que você entenda.
- Você ta duvidando da minha capacidade, Sasuke?
- Estou!
-Pois eu posso provar o que você quiser!
- Oba, disputa! Disputa! – comemorou Ino.
- Ino, não ponha lenha na fogueira...
- Ah, Sakura, deixa de ser chata. Vamos começar uma disputa aqui!
- Disputa de quê?
- Sakê. – falou finalmente Tsunade.
Sakura fez cara de quem não concordava.
- Gente, por favor... O que minha mãe vai pensar?
- Vou pensar que já estava na hora! – e retirando-se para a cozinha e voltando para sala com diversas garrafas na mão sob o olhar surpresos dos presentes.
- Oh, mãe... Por favor...
- Bem, eu adoraria participar, mas tenho que dormir cedo, afinal sou uma senhora de idade. – brincou Tsunade – Além do mais, Haruno-san, acho que estamos sobrando aqui...
A mãe da Sakura caiu na risada.
- Tem razão, Tsunade-sama, está na hora das velhinhas irem dormir. Eu te acompanho até a porta.
Elas se retiraram da sala enquanto Ino abria alegremente a primeira garrafa de sakê.
- Ino, seu pai sabe que você bebe? – questionou Kakashi.
- Eu não bebo. – respondeu – Mas hoje é uma ocasião especial.
- É? – surpreendeu-se a Sakura.
- Claro que é! Veja como a vila de Konoha progrediu! Você finalmente agarra o Sasuke, a Tsunade-sama assume a idade, Kakashi-sensei chega cedo e o Naruto ta estudando!
Todos caíram na risada.
- Então vamos comemorar! –exclamou Kakashi.
Apesar de ficar apenas no chá, Hinata sentiu-se contagiada pela animação que a bebida começou a provocar nos presentes. Não demorou muito e Shizune e Kakashi já compartilhavam o mesmo copo e pouco depois a mesma poltrona. Ino achou que poderia evitar a embriagues bebendo rápido e acabou passando mal. Para seu azar, as médicas presentes pareciam ter outras prioridades.
- Ta ficando quente por aqui... – comentou Hinata timidamente para Naruto quando os três casais continuaram com suas intimidades.
- Tem razão. Vamos lá na cozinha. Acho que estamos sobrando por aqui...
Para se sentir um pouco útil, Hinata recolheu os pratos e levou para a cozinha. A mãe se Sakura aparentemente decidira que deixaria todos muito a vontade, pois não voltara para a sala depois de acompanhar Tsunade a porta.
- É melhor colocar os pratos aqui – falou ela depositando a louça na pia – Já ajudamos a Haruno-san... Hã...Naruto, você está bem?
Naruto levou a mão à cabeça quando chegou na cozinha. Parecia tonto.
- Está bem Naruto-kun?
- Sasuke maldito! Ele quem me obrigou a virar aqueles copos!
- Hã... Acho que você virou espontaneamente Naruto-kun.
Naruto levantou a cabeça e olhou-a bem nos olhos. Parecia que lembrara de procurar alguma coisa diferente. Sentindo-se quase ameaçada por aquele olhar, ela desviou rapidamente a vista.
- Por que você nunca me olha nos olhos Hinata? – indagou ele se aproximando.
- O-O q-quê Naruto-kun? Não entendi sua pergunta. – despistou.
- Acho que entendeu e não quer me responder.
Hinata começou a ficar muito nervosa.
- N-Naruto-kun.. eu...
Foi salva de dizer qualquer coisa pela entrada de Ino, sendo arrastada por Sakura e Shizune e acompanhadas por Sai que vinha sorridente atrás, como se a bebida não estivesse afetando-o.
- Acho que foi bebida demais. – disse ele displicente como se tivesse achando aquilo tudo muito divertido.
- Você acha? Eu tenho certeza. – disse Sakura mal-humorada.
- Eu num to bêbada, num to não – falava Ino com a voz pastosa, tentado se manter em pé – Estou ligeiramente alterada.
- Imagine quando estiver totalmente alterada.
- Precisa de ajuda, Sakura? – perguntou Hinata se aproximando.
- Sim, preciso. Vamos molhar a cabeça dessa alcoólatra e vê se ela melhora pro Sai levar ela pra casa.
- E nós? – perguntou Sai.
- Saiam da minha vista, pois eu estou realmente alterada e nada satisfeita por você incentivar a Ino a beber.
- Mas eu não incentivei...
- Ah, não imagina. Gritar “vira, vira” quando ela tava com a garrafa na boa não é incentivo nenhum...
- Ok, estou saindo. Vamos Naruto.
Naruto relutou um pouco a ir, como se estivesse esperando algo, por isso, Hinata nem se atreveu a olhá-lo. Sabia o que ele queria. Mas a resposta daquela pergunta não estava disponível ainda. Sakura começou a mergulhar a cabeça de Ino na pia cheia de água.
- Vamos pinguça, quis beber agora agüente.
- Hã... Sakura, não é melhor tirar a cabeça dela de dentro da água um pouco... Ela vai sufocar assim...
- Que sufoque! Não mandei ela beber!
Ino conseguiu tirar a cabeça de dentro d’água e respirou fundo!
- Você ta louca? Quer me matar sua megera recatada.
- Recatada? Eu? Não sei de onde você tirou essa idéia...
Todas olharam para Sakura.
- O que foi? O que vocês tão olhando?
- Sakura... – começou Ino ficando subitamente sóbria – Não me diga que você e o Sasuke já....
- Bem, - começou corando um pouco – não que seja da sua conta, mas e se eu disser que sim?
Hinata quase perdeu o fôlego. Era a primeira vez que via alguém falar tão abertamente que poderia ter tido “algo mais” entre namorados.
- Ah, essa eu não sabia! – exclamou Shizune desapontada – Conta como foi, conta!
- Ah, isso não é assunto para se falar assim né? É intimo demais...
- Deixa de frescura e conta logo! –reclamou Ino - Como foi? Doeu? Ele foi gentil?
Quando Sakura parecia ter decidido contar sua aventura amorosa, e Hinata decidido que ia querer ouvir tudo, mesmo que só de pensar já fizesse ela sentir uma fraqueza nas pernas, Naruto adentra a porta mal-humorado.
- Hinata, o Neji veio te pegar.
- Que pena! – exclamou Sakura. E piscando o olho para ela disse maliciosamente – Outro dia nós dividimos nossas experiências amorosas.
E a garota saiu pedindo que esse dia nunca chegasse. Afinal, não teria experiências para dividir com ninguém. Nunca havia nem sequer beijado e provavelmente admitir isso para qualquer uma delas seria constrangedor demais.

Capítulo X – Borboleta abatida

Naruto olhava pela janela da biblioteca para o campinho abaixo. Já era tardinha, por isso não havia mais aula na academia. Dezenas de crianças aproveitavam o fim das aulas para brincar pelas ruas tranqüilas de Konoha. Vendo aqueles meninos e meninas se divertindo tão despreocupadamente com o futuro ou com guerras e missões, uma pontada de inveja surgiu em seu coração. Lembrava de sua infância sofrida. Quantas vezes não se sentara, sozinho, debaixo daquela árvore que habitava os terrenos da academia e chorara de solidão, triste por não poder brincar com os outros, sendo esquecido pelos cantos como um vaso feio que não deveria ser exposto, tratado como uma doença contagiosa e incurável?
“Quando eu for Hokage” pensou consigo mesmo “não permitirei que discriminem nenhuma criança dessa vila, por mais sem talento ou habilidade ela seja”.
Por isso tanto empenho naquela promoção. Por isso seu desespero para agarrar aquela oportunidade. Não ligava para status. O único interesse que ele tinha em virar jounin era a certeza que estaria mais perto de consolidar seu sonho.
Afastando-se da janela e desses pensamentos, Naruto voltou sua atenção para a mesa onde, concentrada, Hinata corrigia sua prova. Como faltavam apenas quatro dias para a realização do teste escrito, ela tivera a idéia de fazer uma espécie de “simulado” com ele.
- É muito simples – explicara – eu apenas vou fazer uma prova no mesmo nível do exame jounin, e você vai responder como se estivesse fazendo o próprio teste, sem direito a consultar nenhum livro. Assim veremos o que precisamos revisar esses dias.
Ele concordara. Demorou em torno de quatro horas para responder a prova e tinha a agradável sensação de ter acertado mais da metade das questões. Não que estivesse fácil, pelo contrario, mas tinha que admitir que se esforçara bastante. Muita coisa mudara nele durante essas três semanas e meia. Havia sido colocado numa situação onde fora necessário um esforço tremendo de vontade e onde fora submetido também a uma pressão psicológica diferente de qualquer outra que tivesse enfrentando. Isso fez com que ele procurasse superar os limites que ele próprio havia se imposto durante toda sua vida. Ainda existia a possibilidade de ser reprovado, Naruto tinha consciência disso, mas somente os frutos que lhe rendera aquele período, já valiam à pena ter tido todo esse esforço. Um desses frutos foi sua proximidade recém-adquirida com Hinata. Apesar de tantos anos como amigos, nunca tiveram a oportunidade de conviver um com o outro como agora. Até então ela era apenas mais uma companheira esforçada, mas muito tímida e que sempre procurava ficar de fora de qualquer foco de atenção. Porém, uma nova Hinata se mostrara para ele. Uma Hinata atenciosa, preocupada, inteligente e prestativa, que não media esforços para auxiliá-lo. E mais uma coisa também começava a perturbar Naruto, ainda que inconscientemente. A suavidade de seus gestos, o jeito doce de falar, o belo sorriso em seu rosto, eram impossíveis de não serem notados. Ele ainda não estava ciente, mas a presença dela despertava uma sensação diferente nele. Uma sensação misteriosa e prazerosa. Agora, suas noites eram povoadas por sonhos envolvendo a doce menina, em que ele podia sentir o calor de seus braços para depois acordar em sua cama fria e com um sentimento de frustração pulsando dentro de si, que o deixava confuso e constrangido. Algumas vezes se pegava devaneando durante as aulas olhando para aqueles pequenos lábios se movendo pausadamente, e relembrando que em seus desejos ocultos pela sombra da noite, eles estavam sempre presentes, colados aos seus. Sentia-se idiota e sujo por estar desejando tanto alguém que, em sua opinião, estava totalmente fora de seu alcance e que tudo que fizera foi ser gentil com ele. Em sua cabeça ainda amava Sakura, apesar de não sentir mais nenhuma palpitação dentro dele quando a via e nenhum ciúme quando Sasuke a tocava. Em contrapartida, adquirira uma insegurança em relação à sua “professora”, onde qualquer pessoa que pudesse desviar a atenção dela em outra direção que não fosse ele, o fazia fervilhar de ciúmes, mesmo que não reconhecesse ainda aquele sentimento.
- Uma bela visão, não é mesmo? – murmurou Keigo ao seu lado apontando para Hinata – Uma pena que seja de família nobre sabe, senão eu arriscava um investimento...
- Hinata não é nenhuma bolsa de valores pra você arriscar um investimento. – falou rispidamente Naruto, parecendo irritado.
- Wow, calma rapaz! Desculpe minhas palavras. Foi só um comentário. Mas que ela é bem bonita não se pode negar.
- Sim, ela é... Mas não precisa falar dela assim... É vulgar.
- Sabe, eu acho que vocês formam um belo par. Vocês se completam perfeitamente. Ela é bonita e inteligente e você é feio e burro. Um casal feito sob medidas.
- Haha... Você é tão engraçadinho...
- Mas, falando sério Naruto. Nunca rolou nada entre vocês?
Naruto pensou um pouco lembrando das noites mal-dormidas em que rolava na cama tentando dormir depois de acordar pensando nela.
- Só em meus sonhos... – murmurou.
Felizmente Keigo não foi capaz de ouvir essa confissão sussurrada, pois um grupo barulhento de genins entrou na biblioteca, perturbando todos que estavam estudando.
- VOCÊS ACHAM QUE ESTAVAM ONDE, HEIN?! NA CASA DA MÃE JOANA?! – berrou a plenos pulmões o bibliotecário.
A risada foi inevitável. Keigo era um cara e tanto.
- Pronto Naruto-kun. Terminei a correção.
O coração de Naruto deu um pulo. Não dava pra dizer pela expressão de Hinata qual fora o resultado. Ela parecia impassível olhando para ele segurando a prova virada para si mesma.
- E então? Como eu fui? – perguntou ansioso.
Ela virou a prova para que ele pudesse ver a nota que atingira. No canto superior da prova, escrito de azul um 8,1 fora circulado de vermelho para se destacar na folha branca. Naruto quase não podia acreditar no que via, e se não confiasse tanto em Hinata, diria que era apenas uma brincadeira sem graça. Mas ela agora sorria para ele. Um sorriso satisfeito. Ele correu em direção a ela e, com as mãos trêmulas, pegou a prova das suas mãos.
- Parabéns! – ela disse animada.
- YES!YES!YES!YES!YES!YES! – Naruto começou a gritar correndo pela biblioteca.
- Naruto-kun… Menos… Senão o Keigo vai aparecer e…
- EI SEU PROTÓTIPO DE BARBIE HERMAFRODITA, VOCÊ PENSA QUE AQUI É FILME PORNÔ PARA VOCÊ TÁ GRITANDO “YES, YES”?! CAI FORA!!!
Eles foram expulsos da biblioteca, mas isso não importava. Naruto estava feliz, tinha conseguido responder 80% da prova corretamente. Era bom demais para ser verdade.
- Hinata, você tem certeza que você não pegou leve comigo? – perguntou preocupado enquanto se encaminhavam para saída do prédio.
- Eu jamais te ofenderia fazendo isso, Naruto-kun.
Ele colocou as mãos atrás da cabeça.
- Hehe, quem diria... Um 8,1...
- Bem, agora eu fazer uma revisão abrangendo somente os pontos que você errou. Assim, vamos nos focar só onde você ainda apresenta dificuldades.
- Beleza!
Chegaram à rua em frente ao prédio, onde o movimento do fim de tarde trocara as crianças por adultos apressados. Mas Naruto não queria se separar dela. Não ainda.
- E-Er... Hinata...você não quer comer um ramen comigo?
- E-Eu adoraria Naruto-kun, mas...
- Tem muitas obrigações no clã – completou ele – Sei, sei...
- Você vai ficar chateado comigo? – perguntou ansiosa.
- De forma alguma. A gente se ver amanhã então, certo?
- S-Sim.
- Então... Até amanhã.
Naruto saiu correndo em direção a barraca de ramen, enquanto Hinata pegou o caminho de seu clã. Uma coisa de repente passou em sua cabeça. Dali a quatro dias ele faria a prova e todas as idas à biblioteca iriam acabar. Um aperto no seu coração fez com que ela afastasse esses pensamentos. Não era bom ficar imaginado o que poderia acontecer ou não. O importante era garantir que Naruto virasse um jounin. Aquela era sua meta desde o princípio. O resto... Era melhor deixar pra depois.
Quando se aproximou da entrada de seu clã, Hinata teve uma imensa surpresa. Parado à porta, seu pai a esperava. Desde pequena, ela aprendera a decifrar cada expressão facial dele, e assim tinha como se preparar para qualquer coisa. Mas naquela hora, por algum motivo, Hinata não soube exatamente o que pensar. Não havia nada que pudesse ser lido na face de Hyuuga Hiashi.
- Que bom que você chegou mais cedo hoje. Precisamos conversar. Entre.
Hinata obedeceu sem contestar. Pairava um ar de tensão quando ela entrou em casa, pois tão logo eles adentraram a sala de chá, Neji e Hanabi que estavam ali, se levantaram e saíram do ambiente.
- O que o senhor quer falar comigo pai? - perguntou depois de depositar sua mochila no canto da sala e se acomodar em frente ao líder do clã Hyuuga.
- É sobre você e Uzumaki Naruto.
O estômago de Hinata se contraiu dolorosamente.
- C-Como a-assim p-pai? E-Eu n-n-não estou entendendo...
- Então irei dizer em poucas palavras de modo bem simples para que possa entender: eu não quero que você volte a ensinar a Uzumaki Naruto. De preferência, que não o veja mais.
Não havia como ela dizer que não entendera. Seu pai fora muito claro. Estava simplesmente proibindo-a de ver Naruto. Diante disso, não conseguiu ficar calada.
- Mas por quê? Só faltam três dias para aprova dele, eu não posso deixá-lo agora! Ele esta contando comigo.
- Exatamente por faltarem três dias. Ele pode se virar sem você.
- Qual a razão disso agora pai?
- Você já deveria saber. Eu não sou idiota. Eu sei o que você sente por ele.
Hinata enrubesceu drasticamente.
- S-Se o senhor e-está se referindo aos boatos pai, eles...
- São falsos, eu sei. Vocês não tiveram nenhuma espécie de relacionamento além de amizade. Você me subestima ao achar que não sei seus passos, Hinata.
- Então por quê...?
- Muitos membros do clã me questionaram a veracidade dessa informação. Mostraram-se indignados e com razão. Como futura líder, tem que mostrar uma postura que vem faltando em você nas últimas semanas. Francamente, pegando os livros do clã e tirando eles dos nossos domínios! Se rebaixando a uma reles professora e deixando suas obrigações com sua família em segundo plano. Hinata, eu nunca esperei muito de você mais assim já é passar dos limites em incompetência!
As lágrimas nublavam os olhos da garota. Não sabia o que dizer ou o que revidar. Apenas ouvia as reclamações de seu pai de cabeça baixa, submissa. Do outro lado da porta Neji ouvia tudo com dor no coração. Era muita maldade colocar alguém como Hinata no canto da parede. Era uma luta de forças desiguais. Mas ele não podia fazer nada. Apenas observar.
- Você irá hoje mesmo dizer a ele que não poderá mais continuar com essas aulas. Como você mesma falou, faltam apenas três dias para a prova, ele não irá se importar.
- Mas pai... Ele conta comigo...
Hiashi a observou com uma mistura de indignação e pena.
- Hinata, você realmente mantêm a ilusão que poderá ficar com ele? Em algum momento ele ao menos demonstrou retribuir seus sentimentos?
Ela negou com a cabeça. Não tinha forças para falar.
- Viu? Estou apenas pensando em seu bem. Se continuar com isso, vai apenas fazer com que crie ilusões a respeito desse rapaz. Quando você se afastar dele, vai perceber que era tudo uma paixão insignificante. E se quiser, casará com alguém da Souke, como deve ser. Agora, procure Uzumaki Naruto e diga a ele o que eu te mandei.
- E-E-Eu n-n-não vou c-conseguir... – balbuciou Hinata já em prantos.
- Então eu irei com você. Garantirei que diga tudo que deve. Agora, enxugue esse pranto vergonhoso. Assuma a postura como herdeira que você é!

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- Puxa tio, o senhor caprichou hoje. O ramen ta melhor que os outros dias!
- Haha, eu acreditaria se não ouvisse você dizer isso todos os dias desde que você aprendeu a falar!
Todos os presentes começaram a rir. No caminho para o Ichiraku ramen, ele encontrara, coincidentemente Lee, Shikamaru e Chouji. Agora, para comemorar a saída do primeiro do hospital, eles estavam comendo ramen e colocando as conversas em dias.
- Então o Naruto-san acha que vai passar na prova? – indagou Lee – Fico muito contente! Em breve você terá seus próprios alunos e eles te admirarão e lhe pagarão ramen todos os dias – exclamou fazendo a pose de nice guy.
- Bem – começou Shikamaru – Fazer prova é um saco. Mas se é isso que você quer... Fique a vontade. Mas vou avisando, ser jounin é muito cansativo...
- Obrigado pelo aviso, Shikamaru, mas eu não tenho medo de me cansar! Eu vou com certeza passar na prova! – e abaixando um pouco a voz acrescentou – Nem que seja para recompensar o esforço que Hinata fez por mim...
- Ah, é mesmo! A Hinata-chan estava te ensinado, certo? A Sakura-san me falou enquanto eu estava internado.
- É. Ela é uma ótima professora.
- É verdade que vocês estão namorando? – perguntou Chouji sem cerimônias.
Naruto suspira.
- Todo mundo me pergunta isso... E eu sempre respondo a mesma coisa. Não. Eu e Hinata não estamos namorando, ficando nem nada que envolva contato corporal. Nós apenas estudamos juntos. Só isso.
- Que sem graça... – disse Chouji – Eu preferia que você ficasse com ela que o Kiba.
- Como assim, o Kiba? – perguntou Naruto surpreso.
- Ué? Você não sabe? O Kiba é apaixonado pela Hinata há anos... Mas parece que ela não corresponde...
- Claro que não. Hinata gosta de outra pessoa. – falou Lee olhando significativamente para Naruto.
Naruto quase engasga com o ramen que estava em sua boca. Tossindo ele tenta desesperadamente falar sem ter muito sucesso.
- O que cofcofcofocfo!!!
- Naruto, engula primeiro e fale depois.
Depois de se recuperara do engasgo ele consegue falar.
- O que você disse? A Hinata gosta de alguém? Quem?
Lee olha para ele surpreso.
- Você nunca percebeu nada, Naruto-san?
- Percebeu o que sombrancelhudo?
- Bem é que...
- Hã... Com licença...
Para a surpresa de todos, principalmente de Naruto, Hinata aparece no local acompanhada de ninguém menos que seu pai.
- Hã.... Naruto-kun...eu gostaria de falar com você...é rápido.... Se possível...
Havia algo estranho, Naruto concluiu. Era verdade que Hinata nunca dissera nada olhando nos seus olhos, mas também nunca manteve a cabeça tão baixa quanto aquele momento. A presença de seu pai também era excepcional. A única vez que Naruto o vira fora no dia do chunin shikem há pelo menos seis anos atrás.
- Ok, vou só pagar aqui...
Sob o olhar curioso dos amigos, Naruto acompanha Hinata e seu pai até um lugar mais sossegado e espera.
- O que você quer falar comigo, Hinata?
O momento era aquele. Sua ultima oportunidade de se declarar a Naruto havia se perdido há muito tempo. Como Kurenai tinha alertado há tantos dias atrás, ela não podia esperar demais. E, covarde, não seguira o conselho. Agora estava prestes a romper o único fio que um dia a ligara a seu grande amor e que tinha sido tecido com todo carinho. Iria rompê-lo para fortalecer as amarras que haviam sido atadas a ela no momento em que nascera na Souke, no momento que viera ao mundo como primogênita. Iria destruir seu sonho infantil de ser amada por aquele garotinho que, como ela, era rejeitado por todos.
Tentou falar, mas sua voz simplesmente não saia. De cabeça baixa, as contrações do seu estômago vieram para aumenta ainda mais seu pânico. Começou a respirar com dificuldade enquanto tentava pronunciar qualquer palavra. Todavia, sabia que se abrisse a boca, começaria a vomitar novamente.
Hiashi e Naruto esperavam o pronunciamento de Hinata. Naruto, sem entender o que se passava, preocupava-se com a tonalidade que adquiria o rosto da garota e a expressão de sofrimento em seu rosto. Ele já começava a se desesperar também. Hiashi, por outro lado, via tudo com indiferença e até aborrecido por não está sendo prontamente atendido.
- Bem, já que ela não parece estar disposta a dizer, eu mesmo o farei. – sentenciou Hiashi dirigindo o olhar para o confuso Naruto.
“NÃO!” gritou o interior de Hinata. Mas quando abriu a boca para protestar, sentiu um gosto vivo de sangue. Levou a mão à boca, e com a outra apoiando no estômago em um ato desesperado de conter as contrações, viu que não podia continuar ali. E fez a coisa mais louca que veio em sua cabeça.
Fugiu.
Começou a correr com todas as suas forças para o mais longe possível de seu carrasco.
- O quem deu nela?! – surpreendeu-se Naruto. E sem esperar por uma resposta, começou a correr atrás da garota gritando seu nome – HINATA!HINATA!
Ela parou se curvando de dor em um local afastado da vila. Não podia mais segurar. Com as mãos no chão ela deixou o sangue aflorar por sua boca, misturada com o conteúdo do seu estomago e as lágrimas. Sentia-se patética.
Naruto se aproximou devagar.
- Hinata...
- VÁ EMBORA! – gritou desesperada.
Mais um espasmo atingiu seu corpo e ela dessa vez regurgitou apenas sangue vivo pelo chão. Já era humilhante demais aquela situação sem testemunhas. A presença dele ali só parecia piorar tudo.
- Hinata, eu vou te levar para o hospital... A hokage-sama vai cuidar de você.
- EU JÁ MANDEI VOCÊ IR EMBORA! NÃO VOU A LUGAR NENHUM!
Essas palavras doeram profundamente em Naruto. Mas ele não foi embora. Nunca vira Hinata tão desesperada e abatida como agora. Nem no chunin shiken, quando quase fora morta por Neji ela perdera totalmente o controle sobre suas emoções.
Hinata agora tremia. Seu corpo parecia que não ia agüentar mais aquilo. Com as pernas tremendo, ela tentou se levantar, em vão.
Que se lascasse às razões de tamanho desespero! Foi o que Naruto pensou se encaminhando até onde ela estava. Ele a levantou sem dificuldade e a segurou forte nos braços. Olhando para a poça de sangue que se formara sob o corpo dela, ele murmurou:
- Agora entendo sua anemia... Seu problema não era falta de alimentação, mas colocar ela pra fora. Tanto que feriu seu esôfago. Vou levá-la para a Hokage-sama agora! Ela dará um jeito nisso.
- Não! – protestou tentando se livrar dos braços que a seguravam – Jyuken! – ela exclamou tentando atacar ele sem sucesso.
- Aiai... Você sabe o quanto dói ter os tenketsu pressionados? Acho que vai ter que ser a força mesmo. E não faça essa cara - acrescentou quando ela o olhou, abismada - Eu vou te levar sim! E amarrada!
Naruto segurou as mãos de Hinata para trás e, tirando sua bandana usou-a para amarrar as mãos da garota. Ela tentou resistir, impulsionando o corpo para frente. Mas não tinha forças para competir com ele naquele momento.
- Pronto, agora você vai quietinha...
- Naruto-kun... Por favor... Não...
Naruto também perdera a paciência.
- Não faço a mínima idéia do que esta acontecendo, mas se você pensa que eu vou deixar você aqui nesse estado só por que parece que está em uma crise aguda de TPM, ta muito enganada! Depois você vai me contar que coisa foi essa, mas por ora me contento em te levar pro hospital!
E colocando ela em seu ombro, começou a se dirigir para onde estava Tsunade.


Capítulo XI – Assumindo erros

Naruto correu o mais rápido que suas pernas permitiam, mas parecia que o escritório de Tsunade tivesse se afastado propositadamente para impedi-lo de alcançar-lo.
- Naruto-kun.... Ponha-me no chão... A vila toda está olhando...
Mas ele não deu ouvidos aos apelos dela. Que olhasse! Não ia de modo algum permitir que Hinata tocasse com os pés no chão antes de estar frente à Hokage. Ela dera mostras de não estar preocupada com a saúde, e ele não iria permitir que isso continuasse. Então, com ela sobre seu ombro, continuou transpondo toda Konoha sem se importar com os comentários que deixava para trás.
- Viu? – falou Tanaka, o dono da livraria quando viu Naruto com Hinata no ombro – Eu disse que eles eram namorados e você não acreditou em mim...
Quando estavam de frente ao prédio onde ficava o escritório da líder da vila, uma sombra surgiu em frente a ele, obstruindo o caminho. Por um momento, Hinata pensou que fosse seu pai que viera tirá-la dos braços de Naruto, até que este exclamou:
- Sasuke, sai da frente!
- Não sem antes você me explicar o que significa isso. Por que você está com a Hinata nos ombros como se fosse um saco de batatas e ainda por cima amarrou as mãos dela? Você não tem senso não? Hiashi-sama me mandou pega-la de volta e leva-la até o clã.
- Saia da frente Sasuke – pediu ele desesperado – A coisa é seria! Hinata não está se sentindo bem. Preciso levá-la até a Vovó Tsunade para que ela examine-a.
- Então por que você a amarrou? Se ela não está bem, deve querer ver a Hokage-sama tanto quanto você...
Hinata começou a tossir fortemente nos ombros de Naruto. Estava lutando contra a vontade de vomitar e parecia estar se sufocando com o sangue que ainda escorria de sua boca. Sua pele estava muito pálida e o coração batia acelerado.
- SASUKE, EU TÔ FALANDO SÉRIO, PORRA! SE VOCÊ NÃO SAIR DO MEU CAMINHO VAI SER PIOR PRA VOCÊ!
- E o que você pretende fazer só com uma das mãos? – indagou pegando sua espada anbu.
- Eu só preciso de uma mão pra acabar com você – e começou a formar o rasengan na mão livre – já fiz uma vez antes, farei de novo!
As tosses de Hinata pioraram. O rasengan de Naruto vacilou por um momento. Não podia demorar mais. Deixando o chakra da mão se evaporar, ele fez o que o amigo menos esperava.
- KAGE BUSHIN NO JUSTU!
E se transformou em dezenas de Narutos com Hinatas nos ombros. Antes que Sasuke pudesses ativar o sharingan para descobrir o verdadeiro, Naruto fugiu das vistas perigosas do amigo.
Tsunade estava assinando uma pilha de documentos. Ao lado dela, Shizune com Tonton nos braços supervisionava o trabalho.
- Tsunade-sama, ainda falta muito, se apresse. Temos que mandar essas ordens ainda hoje...
- Não tente me ensinar meu trabalho Shizune! – falou chateada – Caso você tenha esquecido eu sou a...
- VOVÓ TSUNADE!!!!
Abrindo a porta violentamente, Naruto correu até em frente à mesa da hokage, pondo Hinata no chão. A garota tinha piorado, pois não sustentava o próprio peso do corpo. Quando foi colocada no chão, simplesmente deslizara até o piso, onde ficou sentada sobre as pernas. Seu estado estava lastimável. Toda parte da frente de sua roupa estava manchada de sangue e ela respirava com dificuldade.
- O que significa isso Naruto? – perguntou olhando assombrada para o estado em que Hinata se encontrava.
- Ela não está bem, Vovó Tsunade!
- Isso deu pra reparar sua besta, eu estou falando o que provocou isso!
- Se eu soubesse não tinha vindo até aqui né?
Tsunade se levantou rapidamente de sua mesa e foi até onde estava a garota. Colocou a mão em sua testa como Sakura tinha feito na outra vez, e uma expressão preocupada surgiu no seu rosto.
- E então? – perguntou ansioso.
Ela pensou por um momento.
- Me ajude a levá-la até aquele sofá. Preciso que ela esteja deitada para poder examiná-la melhor.
Pegando cuidadosamente a garota nos braços, Naruto a levou até o lugar designado por Tsunade. Chegando lá, a Hokage rapidamente despiu a parte de cima da roupa de Hinata, fazendo com que seu peito ficasse a mostra. Naruto enrubesceu drasticamente antes que Shizune colocasse as mãos por cima de seus olhos.
- Seja um cavalheiro e vá esperar lá fora. – disse ela.
Ele saiu relutantemente da sala, mas ficou sentado em frente à porta, no chão, sem querer ir embora antes de saber o que acontecia lá dentro. E depois que Hinata se recuperasse, iria perturbá-la até que ela contasse exatamente o que estava acontecendo. Não podia ignorar toda situação. O que ela queria lhe dizer? Por que seu pai fora junto? Por que quando ela parecia não querer falar, ele tomou a frente? Tudo aquilo estava dando voltas em sua cabeça, deixando-o confuso e irritado. Tinha certeza que, se não fosse a vontade de saber do estado da amiga, já teria ido até o clã Hyuuga para tomar satisfação com aquele senhor. Pouco tempo se passara que estava ali quando Sasuke apareceu novamente.
- O que você quer passarinho? – perguntou irritado.
- Saber o que exatamente está acontecendo.
- Então somos dois.
Nenhuma palavra fora dita depois disso. Sasuke sentara no chão junto a ele. Não pediu desculpas, não encorajou, não fez nada. Exceto dar sua companhia. Mas era tudo aquilo que Naruto precisava naquele momento em que suas emoções estavam desordenadas e à flor da pele.
Meia hora já tinha transcorrido quando Tsunade saiu. No mesmo instante, uma maca chegava onde Shizune, junto com outros dois ninjas médicos colocaram Hinata, agora inconsciente e a tiravam dali. Naruto fez menção que iria acompanhar, mas foi detido por Tsunade.
- Eu preciso falar com você. – e olhando para Sasuke disse – E você, vá buscar Sakura urgentemente. Diga a ela que preciso dela sem falta para ontem.
- Sim, Tsunade-sama. – e desapareceu em seguida.
Naruto acompanhou Tsunade de volta a seu escritório. Ele reparou que no lugar onde Hinata estivera deitada havia muito sangue. Mas nada perguntou. Esperou o pronunciamento da Hokage.
- Naruto – começou ela – você sabe o que provocou essa reação na Hinata?
- Bem, eu estava comendo ramen com o Lee, o Chouji e...
- Me poupe desses pequenos detalhes – interrompeu – eu quero saber sobre o que houve com a Hinata.
- Eu tava comendo quando ela chegou com o pai e...
- Hiashi? – interrompeu ela novamente.
- Que eu saiba ela só tem um pai – respondeu irritado com as interrupções.
-Apenas prossiga.
- Então não me interrompa mais! Como eu estava dizendo, a Hinata chegou pedindo para falar comigo. Só que parece que ela não conseguia falar. Aí o pai dela se intrometeu dizendo que se ela não falasse falava ele. Aí ela surtou! Começou a correr que nem uma louca! Até que começou a vomitar tudo. Acho que ela deve ter ficado nervosa por algum motivo e começado a passar mal. Eu faço a mínima idéia do que seja...
“Mas eu sim” pensou Tsunade “Hiashi... você quer fazer com sua filha exatamente o que fizeram com você...”.
- Ela vomitou sangue?
- Muito.
Tsunade bateu com a caneta na mesa.
- Naruto, você já ouviu falar em gastrite nervosa?
- Não. O que é?
- É um problema estomacal que aparece quando somos submetidos a uma pressão psicológica muito forte. Os sintomas variam de pessoa para pessoa. Normalmente é só uma dor de estomago, mais incômoda que perigosa, mas pode evoluir para casos mais graves.
- Esse é problema de Hinata?
- Quem dera que fosse. Como eu disse, a gastrite nervosa pode evoluir para coisas mais perigosas. Como a úlcera, por exemplo. A úlcera é uma ferida no estomago decorrente da gastrite nervosa. Quando está num estágio avançado, ela sangra, e o doente vomita sangue. Se ele não fizer isso, poderá morrer com o sangue coagulado dentro do corpo.
Naruto rapidamente vira-se para o sofá banhado de sangue.
- Então...
- Exatamente. Hinata está com uma úlcera. Mas não é só isso. Suponho que ela tenha vomitado muito nos últimos tempos, porque seu esôfago está comprometido também. Ele está se desmanchando. Preciso fazer uma cirurgia urgentemente nela para reparar todo seu tubo digestivo.
- ENTÃO POR QUE VOCÊ AINDA ESTÁ AQUI?! VAI CUIDAR DA HINATA!!!!
- Acalme-se! Por que você acha que eu mandei chamar a Sakura? Só confio nela e em Shizune para fazer essa cirurgia.
- Ela é complicada?
- Toda cirurgia é. Mas preciso somente pressionar meu chakra para dentro do corpo dela e assim estimular as células delas a se regenerarem. Como você deve ter estudado nesses dias sobre jutsus médicos, suponho que saiba do que eu estou falando.
Ele afirmou com a cabeça.
- Que bom. Agora vá pra casa. Já é noite e só faltam quatro dias para prova. Você com certeza não quer se estressar e...
- De forma alguma eu saiu daqui!
Tsunade olhou surpresa para ele.
- Como?
- De forma alguma eu deixo esse hospital sem antes saber que a Hinata está bem e fora de perigo!
- Sua presença aqui não será útil Naruto. – falou aborrecida – Já fez a sua parte. Vá para casa.
- Não vou!
A hokage suspirou. Que menino difícil.
- Ta bom, mas não fique no meu caminho. Procure os alunos de Hinata e peça pra algum deles avisar ao clã Hyuuga o que está acontecendo.
- Sim, Vovó Tsunade.
- Agora desapareça da minha vista!
Não foi difícil achar o time três. Na verdade, nem precisou procurá-los. Pouco depois que saíra do escritório da Hokage, encontrou com eles, pelo menos dois deles que vinham correndo em sua direção. Logo que viu Naruto, Makoto partiu pra cima dele, tomado de raiva.
- SEU FILHO DE UMA PUTA! O QUE VOCÊ FEZ COM A HINATA-SENSEI?! – gritou atacando Naruto com uma voadora.
Naruto segurou facilmente o pé do garoto e o jogou em cima de Suzumi que já fazia selos, no intuito de também ataca-lo. Atingida pelo companheiro, a garota não consegui completar o ataque.
- O que vocês pensam que estão fazendo? – perguntou Naruto irritado.
Makoto já se levantara e olhava pra ele com um ódio muito grande para seu pequeno corpo. Ele parecia realmente acreditar que podia lutar com Naruto.
- Venha e lute contra mim, em vez de ficar surrando a sensei dos outros!
Aquilo só podia ser brincadeira, pensou Naruto. Ele, atacar Hinata? De onde aquele moleque tinha tirado essa idéia estúpida?
- Do que você está falando, pirralho?
- Não se faça de desentendido, seu falso! Eu achei que você gostasse da Hinata-sensei, mas você tava maltratando ela hoje que eu vi!
Foi então que Naruto compreendeu. Os garotos tinham visto ele trazendo Hinata no ombro e pensavam que fora ele que a ferira.
- Não é nada disso que vocês estão pensando. Eu não fiz nada contra Hinata!
- Mentiroso! – exclamou Suzumi – E eu achei que podia admirar você. – completou com a voz magoada.
- Olhe é realmente um mal entendido...
Mas os dois adolescentes não esperaram que ele completasse a frase. Ambos passaram a atacá-lo usando kunais e golpes de taijutsu. Aquilo já estava irritando Naruto. Quando viu que precisaria ser um pouco mais ríspido para parar os dois genins, foi poupado do trabalho pela chegada de Yumi. Quando seus colegas já iam atacar novamente, ela fez uma junção de selos e colocou as duas mãos no chão, de onde saíram dois pequenos redemoinhos de água, que apesar de não ferir os colegas fez com que eles parassem, e ficassem totalmente encharcados.
- Será que dá pra parar a palhaçada? Vocês não estão vendo que o Naruto-san ta tentando dizer alguma coisa?
- Mas, Yumi, ele atacou a nossa sensei!
- Acorda Suzumi, a Hinata-sensei não foi atacada! Ela apenas passou mal e o Naruto-san a trouxe pro hospital!
- Mas ela vinha amarrada que eu vi! – argumentou Makoto.
- Ela vinha amarrada por que não queria vir para o hospital. – falou Naruto aproveitando que a intervenção de Yumi parara um pouco seus colegas.
Os três o fitaram surpresos.
- Essa parte eu não sabia... – confessou Yumi.
- Por que Hinata-sensei não quis ser atendida, se ela tava passando mal?
- E eu vou lá saber! – falou ele já nervoso com a falta de respostas – Eu to tentando descobrir também. Ela não me explicou...
Makoto e Suzumi baixaram as cabeças, envergonhados.
- Muito bem. – falou Yumi com as mãos na cintura assumindo a postura de líder – Agora peçam desculpas a Naruto-san!
- Desculpa Naruto-san. – falaram juntos.
- Não tem problema. No lugar de vocês eu faria o mesmo – respondeu rindo.
Eles riram junto com Naruto. Era realmente uma situação muito constrangedora.
- Oh, agora lembrei. A Vovó Tsunade tinha me pedido pra dizer a vocês que fossem lá no clã Hyuuga avisar a eles que Hinata está internada e vai ter que passa por uma cirurgia.
- É tão grave assim? – se surpreendeu Makoto.
- Sim. – quem falou foi Yumi – Eu passei no hospital quando me separei de vocês e falei com Shizune-san.
- Ah, mas nós temos que ir mesmo lá ao clã? Eu não gosto da cara do pai da Hinata-sensei...
- Makoto! Olha o respeito!
- Procurem o Neji, então. Ele será mais receptivo com vocês tenho certeza.
- Valeu, Naruto-san! Até mais!
Tão logo ficou sozinho, Naruto pegou a direção do hospital. Precisava de noticias de Hinata para se sentir mais calmo.
“Será que Sakura já chegou lá? Será que a Vovó Tsunade já começou a cirurgia? Tomara que tudo ocorra bem...” pensou enquanto se encaminhava para lá.
Quando chegou ao Hospital de Konoha, Sasuke já estava lá e o esperava na entrada.
- Você demorou. Pensei que estivesse preocupado com a saúde de Hinata.
- E estou. Apenas tive um pequeno contratempo no meio do caminho.
- Que espécie de contratempo?
- O time três. Eles me atacaram pensando que eu tinha feito aquilo com Hinata.
Sasuke riu.
- Você se atrasou porque três genins te atacaram?! Seu estudo parece que pode até ter ajudado seu cérebro, mas parece que danificou outras partes de seu corpo.
- Vai perturbar outro Sasuke. Agora não estou para brincadeiras. – falou sério.
A enfermeira de plantão os acomodou na sala de espera enquanto aguardavam o resultado da cirurgia.
- Faz tempo que a Sakura chegou? – perguntou ao Sasuke.
Ele balançou a cabeça.
-Faz pouco tempo. Eu quase não a achava. Ela tinha ido atender uma chamada de alguém de um vilarejo vizinho. Acho que não faz nem cinco minutos que entrou aí na cirurgia.
- Será que vai demorar?
- Provavelmente. Ouvi Tsunade-sama comentar que seria uma cirurgia delicada.
- Droga.
Naruto olhou para o relógio. Já passava das oito da noite.
- Será uma longa noite...
E ela mal havia começado. Tinha se passado uma hora que Hinata entrara na sala de cirurgia quando o time três apareceu onde Sasuke e Naruto esperavam noticias. Yumi trazia uma pequena maleta lilás, e todos pareciam muito tristes e chateados.
- Então, avisaram o Neji? Onde ele está?Por que não veio com vocês?
- Ele não virá. Nem ninguém do clã.
- Como assim?
- Quando a gente chegou fomos falar com o Neji-san, assim como você disse Naruto-san. – começou Yumi – Ele nos atendeu super bem e até fez uma maleta com as coisinhas da sensei. Ele ia nos acompanhar até que...
- Apareceu aquele velho chato! – exclamou Makoto.
- Velho chato? – quis saber Sasuke.
- O pai da Hinata – esclareceu Naruto – Mas continue Makoto. O que o velho chato fez?
- Ele disse que ninguém do clã tinha tempo de servir de babá para a sensei. – continuou Suzumi – E que quando tivesse um tempo, SE tivesse – ela frizou – viria ver a sensei.
- Começo a odiar esse velho... – disse Naruto.
- Você começa? Eu odeio faz tempo! – disse Makoto.
- Não falem assim. – pediu Yumi – Hinata-sensei não iria gostar de ouvir vocês falarem assim do pai dela. Mesmo que seja verdade...
- Exatamente. Bem ou mal é o pai dela. – falou Sasuke – Se ela tem paciência de agüentar vocês dois – apontou para Naruto e Makoto – agüenta qualquer coisa.
- Ora seu!!!! – exclamou os dois.
O tempo continuou a passar, mas não havia nenhuma notícia, boa ou má. Naruto já estava entrando em parafuso. Quando o relógio bateu meia noite, Sasuke, percebendo o cansaço e a tensão na sala, se ofereceu para levar as crianças para casa.
- Eu num quero ir - protestou Makoto sonolento – Eu quero ver Hinata-sensei...
- Você verá ela amanhã. Agora vamos.
Os três acompanharam ele, aparentando um grande cansaço.
- Não precisa voltar Sasuke. Eu sei que você tem suas obrigações...
- Mas e você?
- Ficarei bem, não se preocupe.
Tsunade apareceu por volta das duas da manhã. Parecia cansada, mas satisfeita. Logo atrás dela, Sakura empurrava a maca onde Hinata dormia profundamente, enquanto Shizune limpava a sala de cirurgia.
- Como ela ta? – perguntou ansioso.
- Fora de perigo – disse sorrindo a Hokage – Mas precisará ficar uns dias aqui, descansando. Por hora, deve dormir até amanha de manhã. Mas possa ser que os anestésicos passem logo e ela acorde antes. Vou ter que deixar alguém aqui olhando ela. Alguém da família mesmo, não estamos com enfermeiras de plantão hoje.
- Não virá ninguém. – disse Naruto chateado segurando a maleta dela nas mãos.
- Como assim não virá? – se surpreendeu Sakura – Onde está a família Hyuuga?
Ele explicou o episódio com Hyuuga Hiashi. Apesar da indignação de Sakura e Shizune, Tsunade não parecia surpresa. Era como se já esperasse uma atitude assim.
- Então você terá de ficar Sakura. Eu infelizmente tenho muito trabalho para terminar...
- Pode deixar que eu fico! – se ofereceu prontamente Naruto.
A Hokage o encarou.
- Você não tem essa obrigação Naruto. E ainda deve estudar para a prova.
- Eu tenho essa obrigação sim! Ela me ajudou durante todo esse tempo, de livre e espontânea vontade. Que tipo de homem eu seria se não a ajudasse agora?
Tsunade olhou para ele e depois para Sakura e Shizune, que concordaram com a cabeça.
- Tudo bem então. Você pode ficar. Mas preste a atenção. Caso ela acorde durante a noite, mesmo que reclame de fome, você deve dar apenas água. Não a irrite, nem deixe que irritem ela, pois isso poderia abrir a ferida do estômago. E, principalmente, não durma! E sempre verifique a temperatura dela. É muito simples. Basta colocar a mão na cabeça dela e ver se a temperatura é igual a sua.
- Pode contar comigo Vovó Tsunade.
- Eu sei que posso. – disse ela sorrindo satisfeita.


Capítulo XII – Sonhos possíveis

Shizune acomodou Hinata em um quarto vago no segundo andar. Sob a luz pálida das lâmpadas, o rosto da garota adquiria uma feição fantasmagórica, vampiresca. Sua pele estava sem cor e havia profundas olheiras sob seus olhos.
- Ela está tão pálida... – comentou Naruto – Isso é normal, Sakura-chan?
- Sim. A quantidade se sangue que ela perdeu foi muito grande.
- Tadinha, eu tenho pena dela. – comentou Shizune arrumando os lençóis – Deve ter sido muito doloroso enfrentar esse problema sozinha. Por que será que não procurou ajuda?
- Ela não queria preocupar ninguém. – respondeu ele – Ela sempre pensa primeiro nos outros, pra depois pensar em si mesma.
- Eu devia ter reparado! – vociferou Sakura – Naquele dia que ela desmaiou, eu deveria ter procurado os motivos da anemia, não só os do desmaio. Que espécie de ninja médica eu sou?
- Calma Sakura. Todos nós deixamos alguma coisa escapar um dia ou outro. – falou Tsunade – Não se responsabilize pelo que aconteceu com ela.
Sakura baixou a cabeça tristemente olhando para a pele pálida de Hinata.
- A vovó tem razão, Sakura. Você não pode se culpar. Na verdade, não há culpados nessa história. Foi uma fatalidade, só isso.
A garota sorriu, concordando com a cabeça.
- Bem, acho que está na hora de nos retirarmos. Estamos todas três muito cansadas. Naruto, qualquer coisa de diferente que acontecer aqui, aperte aquele botão – disse apontando para um botãozinho ao lado da cama – Ele vai alertar diretamente no meu escritório e eu virei imediatamente. Pode ser uma tosse ininterrupta, mudança de temperatura ou dores na barriga.
- Pode deixar vovó Tsunade!
Elas se retiraram logo depois. A primeira providência de Naruto estando sozinho no quarto foi medir a temperatura dela. Colocando uma mão na testa dela e a outra em sua própria ele viu que estava normal. Pegou então uma cadeira e pôs ao lado da cama. Tirando um livrinho do bolso, começou a reler as linhas já quase decoradas para a prova que seria em três dias.
- Aiai... E agora Hinata? Parece que vou ter que me virar sozinho... Afinal, você precisa descansar... Não vou mais incomoda-la com meus problemas.
Então, Naruto percebeu que dali a alguns dias não precisaria ir a biblioteca estudar com Hinata. Provavelmente seria envolvido em missões e mais missões e iria aos poucos perder o contato com ela. Afinal, não tinha lógica continuar com aquelas aulas. Seu objetivo desde o começo era passar naquela prova. Depois que isso acontecesse, cada um seguiria seu caminho. Podiam até repetir noites como aquela na casa da Sakura. Seriam grandes amigos.
Mas alguma coisa dentro dele dizia que aquilo não era suficiente. De alguma forma incorporara Hinata em seu cotidiano, se surpreendendo ao constatar que durante vários anos ela não passara de uma sombra em sua vida. Alguém com um comportamento peculiar, decidida, mas sem nenhum atrativo especial. Agora ela se fundia em seus dias tão perfeitamente que imaginar-se sem os estudos da manhã, acordar sem saber que iria vê-la, não se maldizer com todos aqueles exercícios enormes sobre funções do chakra, era algo aterrador... Iria precisar se adaptar a toda aquela sensação de estar sozinho de novo. A menos que fosse reprovado na prova e obrigado a estudar mais...
“Que coisa é essa eu to pensando?! A Hinata me ajudou de tanta boa vontade e eu desejando não passar!!! Sou uma besta mesmo e daquelas que puxam carroças... Vou voltar a estudar e parar de pensar nessas coisas...”
Mas estava difícil de se concentrar.A todo instante parava de ler para olhar seu rosto, buscar algum sinal de dor ou consciência em sua face, com medo que ela estivesse sofrendo e ele não percebesse. Quando viu que estava sendo uma perda de tempo tentar estudar e que por mais que quisesse, não iria conseguir se concentrar. Fechou o livrinho, guardou dentro do bolso e voltou suas atenções para Hinata, que continuava adormecida profundamente. Ficou imaginado o que teria provocado toda aquela situação. Tsunade explicara que fora uma gastrite nervosa que tinha evoluído. Mas quais teriam sido os motivos de tanto estresse? Não podia sequer imaginar o que faria alguém doce como Hinata sofrer tanto, afinal ela parecia tão ingênua, tão intocável... E tão vulnerável também, ele concluiu. Parecia uma borboleta que tinha tido suas asas arrancadas. Precisava de alguém para protegê-la, para ampará-la... Deveria ser a obrigação de sua família, afinal não era herdeira do clã? Onde estava os tão nobres Hyuuga que nem ao menos fizeram esforços para saber o estado de saúde de Hinata?
- Quando eu for Hokage – sussurrou para a amiga adormecida – Vou ter uma conversinha séria com seu pai sobre essas tradições... Acho que no mundo atual, elas são um tanto primitiva, não acha?
Ele adoraria que ela pudesse responder. Queria ouvir sua voz de novo e ter a certeza que estava tudo bem. Mas conforme o tempo passava e a madrugada chegava ao fim, Hinata continuava adormecida. Naruto, contudo, permaneceu sem dormir, alerta e foi assim que percebeu que, aos poucos, a cor voltada ao rosto dela. Aproximou-se da cama e tocou com as pontas dos dedos a face que adquiria uma bonita coloração rosada. Lentamente começou a percorrer os dedos por sua testa e desceu para as maçãs do rosto.
Ela tinha a pele tão sedosa e macia que era difícil de acreditar que ali repousava uma ninja. Seus dedos continuaram o percurso, até parar nos lábios. Como os demais locais do rosto, eles também readquiriram sua cor habitual, dando uma tonalidade mais saudável a Hinata. Eles também eram macios e fez com que Naruto automaticamente lembrasse das palavras de Lee:
- Hinata gosta de outra pessoa.
Quem seria essa pessoa? Por que eles não estavam juntos? Será que ele, quem quer que fosse não sentia o mesmo por ela? Então ele deve ser um grande idiota, pensou. Afinal, qual homem poderia resistir àqueles lábios tão pequenos? A doçura da Hinata? Seu jeito tão frágil?
“Droga, por que estou pensando isso de novo? Eu não posso me referir a Hinata assim! Eu gosto de uma pessoa, então não posso pensar com tanta freqüência em o outra! Mas...” ele parou um pouco se detendo com os dedos sobre os lábios dela “Ela é tão bonita...”.
E começou a aproximar seu rosto do dela.
Hinata começou a recuperar a consciência ainda de olhos fechados e sentindo-se estranha. Sua cabeça estava pesada e sentia um gosto amargo na boca. Quando abriu os olhos devagar, viu o rosto de Naruto bem próximo do seu. Tinha que ser um sonho. Mas não era. Assustada, ela gritou empurrando ele para longe.
- Aieeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeee!!!!!!
Naruto se desequilibrou e caiu da cadeira, virando-a para trás e batendo com a cabeça no chão. O súbito grito de Hinata o deixou totalmente sem jeito, e envergonhado.
“O que eu estava fazendo? Que tipo de amigo eu sou? Como vou me explicar?!”
Hinata estranhou o quarto em que se encontrava. Tentou se levantar, mas uma dor no estômago a impediu. Levando a mão à barriga, ela viu um fino tubo que entrava ia pelo seu braço até entrar na sua pele através de uma agulha. Foi então que percebeu que estava no hospital de Konoha e que o tubo era fio do soro que gotejava lentamente no frasco. Naruto se levantava desajeitadamente, passando a mão na cabeça, no lugar dolorido que tinha batido no chão.
Olhando totalmente enrubescido para ela, ele falou timidamente:
- Olá!
“Olá? Que tipo de imbecil diria isso para alguém que acabou de acordar de uma cirurgia e que fora incumbido de cuidar dela, mas que quase a beijara?” pensou irritado consigo mesmo.
Ela olhava para ele com as bochechas totalmente rosadas.
- Naruto-kun, o-o q-q-que v-você e-estava f-f-fazendo ?
- Ah,... Foi que... Que... Sabe... A vovó Tsunade me pediu pra ficar com você para poder verificar sua temperatura, sabe já que não tinha enfermeiras e... – ele falava rapidamente sem respirar – e eu tava verificando sua temperatura só isso...
- E por que eu estou no hospital? – perguntou com a voz fraca.
- Você não lembra que tava passando mal?
A verdade é que a mente dela estava muito confusa devido à anestesia. Lembrava vagamente de ter se sentido mal... Mas qual fora os motivos mesmo? Ela sabia que era algo muito doloroso, mas o entorpecimento de sua mente não permitia que ela tivesse acesso àquelas informações.
- Bem... Não tente se esforçar. Desculpe se a assustei, não foi minha intenção... Mas como você está se sentindo? Dor no estômago? Tontura? Fome?
- S-Sim, fome sim.
- Ah, mas a vovó disse que você não podia comer, mas que podia tomar água. Você quer água?
Ela afirmou com a cabeça.
- Tem uma jarra com água aqui, vou lhe dar um pouco.
E virou as costas para ela enquanto procurava um copo. Hinata começou a se perguntar por que Naruto estava ali e não alguém do clã, como Neji ou sua irmã. Será que não sabia que ela estava internada? Ou que simplesmente não se importavam? Foi então que finalmente lembrou os motivos de ter passado mal. Seu pai iria obrigá-la a deixar de dar aulas para Naruto e também não queria que ela o visse mais. Então por que Hiashi permitia que ele estivesse ali, cuidando dela? Teria ele falado alguma coisa com Naruto?

- Naruto-kun – começou ela quando ele a ajudava a se sentar para beber a água – Por que não tem ninguém do clã aqui comigo?
- Bem... – será que ele deveria contar? – Eu mandei avisar que ficaria aqui com você e eles não se importaram.
Hinata sabia que ele estava mentindo para poupá-la de algo. Seu pai jamais permitiria que ele ficasse ali com ela.
- Ele não deixou ninguém vir, não foi mesmo? Meu pai... Não permitiu que ninguém viesse...
Naruto olhou assustado para ela. Como ela poderia saber? Mas já que pensava assim, melhor não continuar enganando-a.
- Sim, ele não deixou. Então eu me ofereci. Espero que você não fique chateada comigo por isso.
- Por que eu ficaria chateada, Naruto-kun? Por você está cuidando de mim? – ela sorriu – eu fico feliz que tenha alguém que se preocupe comigo...
- Não fale assim Hinata, como se você fosse sozinha no mundo – ele lhe ofereceu o copo d’agua – Você tem uma família que se preocupa com você... Seu pai deve apenas estar ocupado e...
Ela balançou a cabeça.
- Não, ele não está preocupado. Nunca esteve. Talvez fosse melhor se eu morresse assim Hanabi assumiria a liderança do clã. Ela é infinitamente melhor que eu.
- Não fale isso nem de brincadeira! – protestou Naruto – Isso não é verdade! Você é muito capaz! Veja só, você conseguiu me ensinar! Quem mais fez isso? Eu burro de jeito que sou e você fez com que eu aprendesse!
- Você nunca foi burro Naruto-kun. Só um pouco desligado...
- Hehe... Assim eu fico encabulado – falou coçando a cabeça – E tenho certeza que você será a melhor líder de clã que essa vila já teve! E quando eu for Hokage e você a líder, a gente dá uma revirada bem grande nessas tradições chatas, que tal?
Para a grande surpresa e desespero de Naruto, ela começou a chorar quando ouviu isso.
- Qual o problema? Ta sentindo dor?
- Nunca ninguém me disse que eu pudesse ser boa para o clã. Apenas afirmavam que eu iria destruí-lo. – falou entre soluços.
- Então eles são uns bandos de retardados piores que eu. – ele falou irritado. – E vão engulir a língua grande deles quando você começar a fazer seu trabalho.
Ela olhou para ele e o deixou totalmente sem ação. Seus olhos brilhavam, não por causa das lágrimas, mas por algo a mais que ele não soube distinguir. Apenas o fez se sentir muito melhor do estivera por todos aqueles dias.
- Obrigada, Naruto-kun. Por estar ao meu lado.
- Jamais deixaria você sozinha. Eu vivi toda minha vida sem ter a alguém que pudesse se preocupar comigo, sem ter quem me elogiasse, sendo maltratado por todos. Eu não deixarei ninguém mais ficar sozinho.
- Nossas infâncias foram bem parecidas... – ela murmurou.
Naruto a olhou surpreso.
- Não estou entendendo Hinata. Você tem sua família e eu cresci sozinho...
- Eu posso até ter tido uma família, mas sempre me senti muito sozinha, sem ter quem pudesse se preocupar comigo, sem ter quem me elogiasse, sendo maltratada por todos... Apesar de ser da Souke e ser a herdeira, eu cresci igual a você...
Não havia motivos para duvidar da veracidade das palavras de Hinata. Ele podia ver toda a dor que seus olhos transmitiam quando falava disso. E quando as lágrimas ameaçavam cair novamente, Naruto fez a última coisa que Hinata esperava que ele fizesse. Ele a abraçou. Um abraço tenro, sem maldade ou malícia, que a fez se sentir segura e protegida. Aninhou a cabeça em seu peito, e deixou que as lágrimas molhassem a camisa dele. Naruto não se importou. Tudo que queria era que o pranto dela parasse e que aquele sorriso bonito voltasse aos seus lábios. Continuaram abraçados por um tempo até que ela se sentindo melhor olhou para ele e soube que havia chegado à hora de cumprir a ordem se seu pai. Apesar de amá-lo, ainda tinha as obrigações como herdeira.
- Naruto-kun... Sobre suas aulas...
- Ah, eu queria mesmo falar disso! Você não precisa se preocupar comigo! Como só faltam três dias eu quero que você descanse e pode deixar que eu vou estudar sozinho exatamente da forma que você ensinou. Vou apenas revisar os pontos que tenho mais dificuldade. Só peço uma coisinha. – ele corou nessa hora – Quando eu tiver dúvida, posso vir aqui te visitar?
Ela sorriu aliviada. Não precisava magoá-lo. E uma visita em um hospital não poderia ser chamada de “aula”, então seu pai não teria do quer reclamar por hora.
- Pode me visitar a hora que você quiser Naruto-kun.
Ele sorriu satisfeito.
- Agora eu quero que você durma mais um pouco – pediu ele – Já está quase amanhecendo e se a Sakura-chan ou a vovó Tsunade souber que você ficou tanto tempo acordada, vão tirar meus órgãos e vender no mercado negro!

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Hyuuga Hiashi chegou ao hospital por volta do meio-dia. Passara a manhã treinando Hanabi e só agora decidira procurar saber o estado de sua filha mais velha. Quando chegou à recepção, a enfermeira o olhou com reverência e cumprimentou:
- Bom dia, Hyuuga-sama.
- Qual o quarto onde está a minha filha? – perguntou friamente sem retribui o cumprimento.
- Bem – a garota ficara totalmente sem jeito – Siga-me, por favor.
Ela o levou até o segundo andar onde ficava o quarto de Hinata.
- Aqui, Hyuuga-sama. Mas eu creio que a Hokage-sama esteja examinado-a.
Ele apenas concordou com a cabeça e entrou em seguida. Realmente Tsunade se encontrava no quarto e verificava o estado da garota. Ao lado dela, Sakura tomava o pulso de Hinata e foi a primeira a ver o pai da amiga de pé na porta.
- Parece que você tem visitas, Hinata. – avisou ela.
Hinata olhou demoradamente para o pai quando o viu. Não sabia o que dizer. Estava envergonhada pelo estado em que se encontrava e sabia que seria duramente criticada. Tsunade também parecia estar pensando a mesma coisa. Foi ela quem iniciou a conversa.
- Ora, ora, Hiashi-kun. Que satisfação em vê-lo. Parece que finalmente você lembrou que tinha uma filha doente.
Ninguém nunca falar assim tão informalmente com Hiashi na frente dela. Nem tão pouco o criticaram. Mas para Tsunade ali não estava o líder do clã Hyuuga, mas um garotinho que ela vira crescer e que precisava urgentemente de um puxão de orelha. Hinata percebeu que, por um momento seu pai pareceu extremamente envergonhado. Mas foi só por um momento. Logo recuperou a sua habitual compostura.
- Eu gostaria de falar a sós com minha filha Tsunade-sama.
- Claro. – Tsunade sorriu displicentemente – Mas lembre Hiashi-kun, sua filha ainda está sob observação. Ela não pode ter nenhum tipo de aborrecimento ou irritação. Quando terminar, eu volto. – disse falando com Hinata agora – Até.
E saiu acompanhada por Sakura que antes de sair acenou para Hinata que retribuiu o aceno.
Agora estavam somente ela e seu pai. Hiashi, contudo não se sentou. Limitou-se a fita-la, de pé perto da cama.
- N-Não vai sentar pai?
- Não é necessário. Como você está se sentindo?
- Bem melhor...
- Isso é bom. Cuide de sua saúde, afinal sua posse está bem perto.
- S-Sim.
- Você já fez o que eu lhe mandei fazer? Já falou com Uzumaki Naruto?
- Não foi necessário. Ele mesmo disse que podia estudar sozinho já que eu estou internada...
Para ela não havia necessidade de dizer que Naruto viria tirar dúvidas durante suas visitas. Seu pai não precisava saber disso.
- Ótimo. Parece-me que este rapaz tem algum bom-senso. Então será capaz de entender que deve se afastar de você, certo?
Hinata desviou os olhos do pai e enrubesceu.
- Você não falou isso, não é? Previsível. Já que você não parece capaz disso, eu mesmo falarei para ele.
- Por que pai? – ela perguntou em tom de súplica – Por que eu tenho que me afastar do Naruto? O que isso vai mudar o fato que eu herdarei o clã? Ele nem gosta de mim mesmo...
- Você gosta tanto assim desse rapaz?
Ela confirmou com a cabeça.
- Mas um motivo para afastá-la dele. Seu compromisso é para com o clã e não com sentimentos inúteis como o amor...
- Pai... O senhor nunca amou?
O silêncio reinou durante alguns instantes no quarto. Hinata não sabia por que, mas aquelas palavras pareciam ter afetado seu pai. Ele fechou os olhos como se lembrasse de algo e suspirou. Quando olhou novamente para ela, seus olhos estavam menos frios e exibiam uma profunda dor.
- Sim eu já amei. E por isso eu quero que você desista desse amor, Hinata. Principalmente pelo fato de não ser correspondida.
Hinata olhou para suas mãos. Não sabia como contestar o que seu pai dizia. Baixou a cabeça e pôs-se a chorar silenciosamente. Seu amor estava prestes a morrer sem ao menos ter nascido. Seus sentimentos seriam enterrados vivos debaixo da montanha de suas obrigações. Hiashi observou o sofrimento de sua filha, maldizendo a existência de Naruto.
- Muito bem – falou ele – Irei te dar uma chance de viver sua ilusão Hinata. De hoje até o dia de sua posse, você estará livre para fazer o que quiser, nem eu, nem ninguém do clã iremos impedir nada. Serão onze dias nos quais você poderá realizar todos seus desejos, sejam eles qual forem. Porém, ao final desses dias, você irá acordar desse sonho feliz, voltará para a realidade cortando todos seus laços que a ligam a esse rapaz e se dedicará somente ao clã. Essa é a única opção que te ofereço.
“Onze dias” ela pensou “Onze dias para ser feliz”.
- Então, o que me diz? É claro que se você quiser poderá apenas deixar tudo pra lá e fazer o que mandei inicialmente.
- Eu aceito sua proposta. Viverei intensamente a oportunidade que acaba de me dar, pai. E depois, obedientemente, assumirei a liderança do clã. – e pensando nas palavras que Naruto lhe dissera noite passada acrescentou – Dedicarei a vida a ele e serei a melhor líder de clã que a vila de Konoha já viu.
Hiashi sorriu.
- Assim espero.

2 comentários:

  1. iraddddddddddddooooooooooooooooooooooooo dimais emosionate

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  2. Eu chorei aí as palavra que o Naruto disse pra ela,ela falando que a infância deles é parecida eu chorei tava lindo.

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